Saturday, February 25, 2023

Bissaulonia


HOMENAGEM

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“Bissaulónia”, foi o título que escolhi para este livro, na intenção de tentar prestar uma pequena e modesta homenagem, a todo o simpático povo da Guiné-Bissau - terra onde vivi cerca de 14 anos e ½, e, também, onde nasceu a minha querida e única filha, além de ter sido na Guiné…onde passei (vivendo) os melhores dias da minha vida.

De facto, e honestamente falando – ou escrevendo para que conste – foi lá, na Guiné-Bissau, anteriormente conhecida como Guiné Portuguesa, onde passei os melhores e mais felizes dias da minha vida, apesar de vários dissabores e dificuldades de toda ordem, incluindo ameaças de morte! 

Na realidade, e apesar de ter vivido cerca de 32 anos nos EUA, (jan.1982 a nov. 2014.) ainda hoje está para vir um dia em que, - socialmente falando, nos EUA, tivesse passado um dia melhor do que todos os dias que passei na Guiné, incluindo o período do tempo de guerra. E, sobre este facto, como já não vivo nos EUA, o dia mais feliz - se vier - jamais será nos EUA. 

A Guiné-Bissau é, quanto a mim, uma terra onde, “um não sei quê de mítico” se apodera das nossas almas, deixando-nos como que “enfeitiçados” pelo carisma e amizade espontâneos que nos são dedicados, por parte do seu simpático povo… mesmo que sejamos desconhecidos.

Uma terra onde, “ter dinheiro” é bom e agradável… mas, ter amizade, é muito melhor ainda. Uma terra onde, quando se oferece algo “a alguém”, se recebe em troca muito mais, de uma forma espontânea e invisível, em forma de amizade!

Uma terra onde, se um carro avaria no meio da floresta, logo aparecem “mãos mágicas” e esforçadas, vindas não se sabe de onde, para ajudar. Uma terra onde, o “ser humano” está mais perto de si mesmo, sendo, por isso, mais humano.

Uma terra onde, a miséria é riqueza!

Uma riqueza invisível, mas que nem por isso deixa de ser riqueza. A riqueza da amizade; a riqueza da compreensão; a riqueza da entreajuda; a riqueza imaterialista e inocente; a riqueza dos ricos de nada terem.

 

No fundo, a riqueza dos pobres que, mesmo que nada mais tenham, juntando o “nada” á abundância do Sol de Inverno e as chuvas de Verão, formam um complemento de uma riqueza natural e abundante, á espera do despertar “milagroso” do progresso futuro, na esperança de melhores dias, para o bem-estar de todo o povo guineense que, aqui nestas linhas, com muito respeito, muito carinhosamente “rebatizo” como povo “Bissauloniano”, juntando os meus melhores votos de p.p.p. a todos! Ou Persistência! Paz! Progresso!

Tu... Povo Bissauloniano…mereces isso e muito mais!

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DECLARAÇÃO

Antes de mais, gostaria de dizer que, quando decidi escrever este livro, não foi na expectativa de fazer fortuna com sua venda, nem tão-pouco obter “louros” que me possam “induzir” a ter uma atitude sobranceira e “hipócrita”, perante o meu semelhante, “pavoneando-me” vaidosamente pelo feito.

Não sou desse tipo de pessoas, como sobejamente já o demonstrei em várias ocasiões, ao longo dos meus muitos anos já feitos -78 - á data de terminar de escrever estas linhas. Quem me conheceu e conhece de longa data, sabe muito bem que assim é. “Atributos hipócritas”, não fazem parte da minha forma de ser. Antes pelo contrário! Tanto que, uma das minhas frases idiomáticas preferidas, tem por lema...o seguinte…

“A minha imperfeição…é que faz de mim, um perfeito cidadão!”

Na realidade, considero-me uma pessoa modesta, tendo como bitola de trato, o respeito por tudo e todos, exceto pelos hipócritas e os presunçosos.

Ao mesmo tempo, uma das intenções destas linhas, é tentar “desabafar” o que há muito deveria ter “desabafado”. E faço-o, usando uma linguagem que, no meu entender, poderá descrever o sentimento que “ocupava todo o meu ser”, na ocasião de certos acontecimentos que, aqui tento descrever o mais fielmente possível.

No entanto, tal linguagem, de modo algum é na intenção de ofender quem quer que seja... que acaso possa “parecer” vir a ser ofendido, simplesmente porque essa não é a intenção deste livro. Reconheço, no entanto, que o uso de algumas frases aparentemente menos elogiosas, poderão ser consideradas ofensivas para alguns dos leitores, se bem que essa não seja a minha intenção, como já disse.

E repito!!!

Mas, se assim for, desde já chamo a atenção para o facto de que, tais frases, só se encaixarão nos “objetivados” se as suas atitudes e as suas ações, na ocasião, se enquadrarem na descrição das mesmas frases. Insisto que, não é minha intenção “ofender” quem quer que seja, mas sim e simplesmente, passar o testemunho de “factos factuais”. 

Na verdade, se houver algo ou alguém a condenar, não serei eu a fazê-lo, porque o meu “turno” de fazer acusações, acabou lá num longínquo dia de agosto de 1981, a bordo do avião da TAP, acabadinho de levantar voo do aeroporto de “Bissau” (agora já Bissaulonia), aquando da minha última saída da terra que considerava ocupar uma boa parte do meu coração e a minha mente, a qual, considerava ser - e considero ainda hoje - a minha segunda Pátria.

Naquele momento, com uma sensação estranha invadindo todo o meu ser e, algumas lágrimas furtivas mareando-me os olhos, com um “nó na garganta” de sabor amargo, conjuntamente com um aperto enorme no peito, enquanto que, ao mesmo tempo, aparentava ser forte, numa inútil tentativa de esconder as saudades que já se faziam sentir, ainda que somente a poucos minutos de o avião levantar voo, numa partida que quisera não ter sido para sempre.

 Pelo menos, esse era o meu desejo na ocasião.

Hoje, á data destas linhas, já com 78 anos feitos e após cerca de 42 anos passados, continua com mais intensidade, num desejo imenso de lá voltar, antes que “seja chamado a prestar contas finais”, juntando-me aos meus entes-queridos já falecidos, lá no jardim dos justos, para onde todos nós iremos um dia ou uma noite - tais são as saudades que sinto.

Saudades, da terra onde fui feliz. Saudades, da terra onde a esperança um dia foi minha companheira de decisões menos acertadas, mas que, na ocasião, por acreditar cegamente nas novas autoridades, foram tomadas. Saudades, da terra onde nasceu a minha querida e única filha, como já referi antes. No fundo, saudades da amizade e simpatia de que fui alvo por parte do povo da Guiné-Bissau, com o qual convivi...e que, com o tempo, se foram acumulando, deixando aos destinos da vida, a circunstância de nunca mais lá ter regressado.

                                           Assim é, porque assim foi!

No entanto, e continuando a tentar justificar qualquer possível interpretação negativa sobre as referidas frases, permitam-me dizer que, tratando-se de “desabafar” e relatar certos episódios, peço a compreensão da maioria dos leitores porque, em nome da verdade, sou forçado a dizer que… a ingratidão; a arrogância; a prepotência e o abuso - prática de alguns elementos empoleirados no poder na ocasião dos acontecimentos descritos, se bem que não devam ser “mapiados” como a norma existente num país ou num povo, de modo algum poderei deixar de fazer referência e recriminar os autores de tais atitudes para comigo e minha família, considerando a forma como eu tinha lidado com as populações locais, até ali. 

 Até ali, e dali para diante, considerando que, a um “ponto”, deixei de estar em atividade por conta própria, e consequentemente, deixando de ficar em contacto com alguns dos “chamados operativos políticos” que, como já referi, dificultavam a boa convivência, entre pessoas civilizadas. E, neste ponto, considero que, os autores de tais atos, pela “fraqueza da sua razão” ou pela sua total falta de preparação para saberem decifrar entre “o bom e o mau”, faziam-se fortes através da sua arrogância.

                             Sempre assim foi e, lamentavelmente, tudo indica que 
                             sempre assim será, nos quatro quadrantes do mundo. 

Por isso, e só por isso, por ser verdade, mantendo a minha intenção inicial, em prol da amizade e compreensão, ilibando os inocentes que, felizmente, foram e são a maioria. E, para finalizar este trecho de escrita, convido os leitores a lerem estas linhas com uma mentalidade “aberta e sóbria”, livre de qualquer preconceito racial, tal como o autor o está fazendo, escrevendo, para que conste.

INTENÇÃO – OBJETIVO

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A intenção destas linhas, além da simbólica homenagem anteriormente referida, também têm como objetivo principal, satisfazer o pedido de vários ex-camaradas de armas, cujos quais, na sua grande maioria, prestaram serviço militar, na então chamada Guiné Portuguesa, hoje um novo país, conhecido como Guiné-Bissau. 

Uma das razões, assenta no facto de que, enquanto muitos destes meus camaradas fizeram uma ou mais (quem sabe?) comissão de serviço    que, normalmente, rondaria os 24 meses - sabe-se lá em que local do teatro de guerra, quantas e quantas vezes, em risco constante da própria vida - eu, considerando-me um “sortudo”, que nem uma pistola tive distribuída, acabei por ficar na Guiné, após cumprida a minha comissão de 19 meses e 10 dias bem contados, com “risquinhos” mensais e tudo, no cinto – cópia fiel do uso e costumes de outros camaradas de armas – ao serviço da Força Aérea Portuguesa, inicialmente destacado na messe de sargentos e, posteriormente, na messe de oficias, ambas localizadas, mesmo no coração da cidade de Bissau.

Entretanto, á medida que o tempo ia passando, eu fui adquirindo uma certa simpatia pelos guineenses, devido ao carinho que os mesmos demonstravam ter para comigo, tanto na messe de sargentos - por onde tinha passado no 1º mês, logo após a minha chegada á Guiné - como na messe de oficiais, onde me encontrava na ocasião de passar á disponibilidade, ao ponto de, já na reta final da minha comissão, insistirem para que eu não regressasse á “metrópole”, tal como era denominado na ocasião, o nosso querido Portugal.

Portanto, perante esta “onda de carinho” e, perante uma boa oportunidade de emprego que, entretanto, tinha surgido num novo local, previsto a abrir nos dias próximos á minha passagem “á disponibilidade” - a cervejaria-restaurante Sol-mar, para quem conheceu - decidi mesmo não regressar, ainda que a ideia fosse somente por um par de meses, enquanto endireitava as minhas finanças que, cá para nós, andavam pelas “ruas da amargura”, incluindo algumas “dívidas” às costas no bar da messe de oficiais, tudo por causa das bazucas de cerveja de ½ litro!

Entretanto, “o par de meses” e a intenção temporária acabou por se transformar em cerca de 12 anos (mais o tempo de serviço militar), incluindo cerca de 7 anos depois da independência, proporcionando-me a oportunidade de ser “testemunha” voluntária do desenrolar de vários acontecimentos, nunca ao alcance destes meus camaradas, que refiro antes.

No entanto, como os leitores devem compreender, apesar de  ter havido “vários episódios” espalhados por toda a Guiné…no que a mim me toca, só é possível referir-me aos episódios “centralizados” na área de Bissau e vizinhanças limítrofes, tendo em consideração que era aí que eu me encontrava presente a maior parte do tempo, desde a minha chegada, em maio de 1967 até ao dia da independência da Guiné - abrangendo uma boa parte do período de guerra - oportunidade essa que, só os presentes na ocasião puderam testemunhar. Uns num local e outros noutro. Uns de uma forma e outros doutra. Eu, como já disse, estava em Bissau.

Portanto, no que me diz respeito, além do período antes da independência que refiro, tive a oportunidade de assistir – para bem ou para o mal – a toda uma mudança da conjuntura social e política que passou a vigorar na Guiné, após a independência e durante cerca de 7 anos depois. De facto, só saí definitivamente da Guiné, em agosto de 1981. E, aqui, neste ponto, tendo em conta o longo tempo já passado,  qualquer lapso de datas, é somente isso mesmo.

Lapso, e nada mais que isso!

Como tal, desde setembro de 1974 - data da independência da Guiné - a agosto de 1981, são quase 7 anos, como já disse. Seis anos e 11 meses, mais precisamente. Deste modo, perante a certeza destes factos, creio ser mais que lógico a existência de uma certa “curiosidade” por parte destes meus camaradas, em quererem saber como “foi aquilo” depois da partida deles ou, mais englobante, como “foi aquilo”, depois da independência.

É, pois, com grande prazer pessoal, que tenho a honra de tentar satisfazer esta curiosidade, relatando o que quer que seja que haja a relatar, o mais realisticamente possível e o melhor que a minha memória me permite, pedindo desculpa a todos, se acaso não consigo satisfazer cabalmente, a totalidade das vossas expectativas.   

Nestas linhas, só digo o que sei e o que penso estar correto, mesmo debaixo de alguma imperfeição humana. Aqui vai, com um fraternal abraço a todos os viventes… e, aos que já partiram para “o jardim dos justos”, que a terra lhes seja leve, e o sorriso das flores os “embale e ilumine”, no seu “somo eterno”.

Para a vida e para a morte, sou o sempre vosso fiel camarada… Mário Serra de Oliveira - 1º Cabo amanuense nº 262/66 – ZACVG (Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné).  

RECONHECIMENTO

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Seguidamente, e por respeito para com o meu semelhante, independentemente de pontos de vista políticos e ações do passado, sinto-me no dever cívico de prestar uma sincera homenagem de reconhecimento e gratidão, para com alguns elementos do PAIGC que, após a independência da Guiné, fizeram parte do Governo, ou que ocuparam posições de liderança naquela ocasião, com os quais tive a oportunidade e o privilégio de conviver – e até servir - atendendo á minha atividade de comerciante no ramo da restauração… os quais, na sua maioria, de uma forma ou de outra, foram muito atenciosos para comigo e minha família

Nem todos, mas uma boa maioria.

Procurarei também, separar o “trigo do joio” entre estes e outros protagonistas ligados ao PAIGC porque, efetivamente, como já disse, nem todos aqueles com quem convivi – independentemente do cargo que acaso ocupassem na ocasião – usaram a mesma cortesia, o mesmo respeito e a mesma justeza, nas suas lides diárias ou ocasionais para com a minha pessoa. De facto, por parte de alguns destes últimos, aos quais farei referência dos seus atos e atitudes noutra secção destas linhas, se acaso houve algum excesso ou empenho, foi de “abuso e prepotência”, numa tentativa de dificultarem o mais possível a minha vida, bem como a da minha família.

O porquê, só eles o saberiam ou, como sempre desconfiei, só eles teriam em mente um determinado objetivo político - aberrantemente paupérrimo - que, quanto a mim, seria que eu desistisse voluntariamente de “remar contra a maré” e entregasse os meus negócios, gratuitamente, ao Estado (ou a algum familiar destas piranhas humanas)    estratégia usada no sistema comunista, debaixo do lema…“Ou vergas” por tua iniciativa ou, com o tempo,vais vergar pelas dificuldades que vais enfrentar”!Neste ponto, penso que se esqueceram de ter em conta o “material” de que é feito a minha caixa craniana – cuja massa encefálica, foi herdada, da “forma de ser” da minha querida mãe, de uma índole indomável perante a razão e em face da prepotência, mas que, ao mesmo tempo, capaz de tirar a camisa do corpo para dar ao seu semelhante, se este necessitasse e a merecesse.

De facto, conversando civilizadamente, a bem, até talvez fosse possível que os objetivos “deles” fossem realizados mas, a mal, nunca. No entanto, nesta secção, tratando-se de um espaço dedicado a uma homenagem, permitam-me seguir adiante, concentrando-me no conjunto de personalidades do governo da Guiné-Bissau que, pela sua atenção e respeito demonstrado para comigo e minha família, considero merecedores de reverência, a quem, com toda a minha sinceridade, presto uma póstuma homenagem aos já falecidos e, aos ainda vivos, se os houver, depois de tantas escaramuças políticas naquela pobre terra, apresento os meus mais profundos e sinceros agradecimentos.

Deste modo, cada qual pelo seu motivo, mas, todos pela sua atenção, boas palavras e cortesia, aqui ficam os nomes e cargos que ocupavam na ocasião, de todos os que a minha memória permite recordar com agrado e profundo reconhecimento, pedindo desculpa por se acaso a memória me atraiçoa, esquecendo-me de mencionar… algum-outro nome.

Temos: - Laurentino Lima Gomes, comissário das obras públicas, que vivia mesmo em frente do meu restaurante “A Tabanca, a qual visitava quase diariamente”- Francisco Mendes, também conhecido como “Chico Tê”, 1º ministro, mais tarde assassinado; Armando Ramos, comissário do comércio; José Pereira, comissário da segurança social; Juvêncio Gomes, presidente da camara municipal de Bissau;   que me convidou para fazer parte da sua equipa, dando-me o cargo de diretor geral do sector-conjunto de casas de comes-e-bebes que acaso ficassem debaixo do controle do governo – incluindo Ponta Neto” o Ninho, A Tabanca etc. etc., o qual, por “burro” não aceitei. Victor Saúde Maria – comissário dos negócios estrangeiros e cuja mulher era uma “garça” de 1ª linha,  Manuel Saturnino, cuja posição no governo não recordo; Marcelino Lima, diretor dos armazéns do povo; um “tal” senhor ou camarada – como lhe queiram chamar - Embaló, cujo nome completo não recordo, diretor da Dicol (antiga Sacor); José Carlos Schwartz, cuja posição… que ocupava no seio do PAIGC… desconheço mas que, a título pessoal, era membro do conjunto musical Cobiana Djazz, autor e poeta, falecido num trágico  acidente de aviação em Cuba; Carlos Gomes Júnior, (Cadogo), na ocasião, um cliente assíduo igual a tantos outros e que, entretanto, muitos anos depois, foi 1º ministro da Guiné, e outros que, de um modo geral, foram muito corteses para comigo e minha família.

 Aos já falecidos, que a terra lhes seja leve. E, aos ainda vivos, aqui fica mais uma vez, o meu sincero e honesto agradecimento por tudo quanto fizeram e disseram, para aliviar as incertezas que “pairavam” no ar a cada instante. De facto, pela incerteza do “dia-a-dia, aprendeu-se a viver do nada de incertezas existentes, para nada de certeza do mesmo, a cada dia que passava. Uma Universidade do género, deveria existir para se poder graduar, com curso de “doutoramento sobre a PDV ou Puta da Vida”. Se houvesse uma tal universidade, tenho a certeza que eu graduaria com alta distinção.

Aqui chegado, os nomes daqueles que foram uma espécie de “carrascos” para comigo, não têm lugar aqui nesta secção, em respeito aos já homenageados, na intenção de não misturar “o bom com o mau”, separando com isso, o “trigo do joio”, conforme prometi anteriormente. No entanto, cada qual a seu tempo…será alvo de referência, quando chegar o momento de relatar os episódios em que, tristemente, estiveram envolvidos contra mim e minha família.

Ao mesmo tempo, antes de dar início aos capítulos que irão fazer parte do “corpo principal” deste livro, não poderia deixar de também fazer, uma singela homenagem, a todos os milhares dos meus camaradas, ex-combatentes das Forças Armadas de Portugal, que prestaram serviço no chamado “ultramar português” durante as guerras de libertação das ex-colónias, tendo em especial consideração, os milhares de camaradas que, no conjunto geral, uns numa ocasião e outros noutra, passaram pela então chamada Guiné Portuguesa, numa comissão de serviço que, normalmente, rondaria os 24 meses, como já disse, e a quem estas linhas são dedicadas.

Até lá, aqui fica esta singela homenagem aos que, por bem serviram e, em 1º lugar mais uma vez, todos os meus camaradas de armas e, por bem fazerem, aos acima anteriormente referenciados. Mas, todos eles, por direito e consideração, dignos ilustres desta homenagem.

NOTA DO AUTOR

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Aqui chegado, e por uma questão de princípio ou de estilo de escrever - talvez por não ter muita prática no alinhamento dos temas a apresentar nas 1ªs páginas, antes do início dos capítulos principais - permitam-me referir que, através do progresso da leitura destas linhas, os leitores irão notar que… certos episódios aqui relatados, são descritos numa linguagem sem rodeios e sem preconceito algum, considerando que, ao pretender “ser eu mesmo”, não hesitarei um segundo sequer a “apontar o dedo” a certos indivíduos menos corteses para comigo e minha família, em certos acontecimentos e episódios em que estive envolvido, quiçá usando uma termologia menos elogiosa mas que, de modo algum pretendo que seja ofensiva, na intenção de demonstrar que, afinal... “o tempo tudo cura”!

Qualquer recriminação a fazer – e muitas razões houve para tal - pertence ao passado. Agora, passados tantos anos, resta estar objetivado na manutenção da boa harmonia e compreensão entre todos os intervenientes porque, o mais importante é o respeito por aqueles que já não se encontram “entre nós”, sem possibilidades de se defenderem ou de se justificarem. A estes, com o meu póstumo “perdão”, que restem em paz.

No entanto, tratando-se de escrever o que me parece ter que ser escrito, até é possível que algumas “frases” possam aparentar estar desviadas da intenção acima referida. Deste modo, se tal vier a acontecer, peço a máxima compreensão aos leitores mais sensíveis, porque qualquer falha da minha parte, poderá esta ligada á emoção do momento, refletiva do meu estado de espírito na ocasião, sem que, com isso, qualquer referência pessoal a estes indivíduos, deva ser considerada extensiva a mais alguém, além dos “atingidos” ou referenciados. De modo algum, é minha intenção ofender quem quer que seja, generalizando qualquer “palavra” mais descritiva da minha opinião para com os indivíduos em causa.

Quem mal não me fez, mal não deve esperar de mim.

Aqui, tudo o que eu disser, é o fruto da emoção da ocasião como já disse, perante a incerteza reinante, pela raiva contida dentro de mim naqueles momentos, devido á autocrática atitude de alguns dos elementos envolvidos, numa demonstração de ingratidão total, para com quem “confiou cegamente” que - pensei eu na ocasião - valeria a pena arriscar e ficar por ali, no meio do povo da Guiné, o qual sempre respeitei e respeito profundamente, na esperança que poderia servir de um exemplo de “boa-convivência”, onde os meus serviços fossem úteis e apreciados, esperando como reconhecimento, o respeito e a amizade.  Nada mais!

Mas, infelizmente, a esperança despertada em mim, quando fiz a decisão que fiz, em ficar por ali, no meio daquele povo,  foi atraiçoada e deitada por “água-abaixo”, não por “obra e graça” do povo da Guiné, mas sim por “obra, abuso e prepotência total” de meia dúzia de “extraviados do sistema da boa-harmonia” que, no meu ponto de vista, deveria ser a norma reinante, uma vez que a guerra já tinha terminado e, assim sendo, esperar-se-ia que, “pretos, brancos e mestiços” unissem os seus esforços, em prol da construção dos destinos do novo país, para o bem-estar de todo o seu povo. Era assim que eu pensava na ocasião, e é assim que penso, ainda hoje, já depois de muitos anos passados. Não procuro agradar a ninguém e, muito menos ofender alguém!

Não tenho “feitio” para fingir, a não ser em casos de extrema gravidade onde, por exemplo, “ao dizer-se a verdade”, se possa causar danos ou emoções pessoais irreparáveis. Felizmente que, aqui, nestas linhas, não será esse o caso e, como tal, limitando-me a ser “eu mesmo”, não hesitarei um “iota”, em tentar “pegar o touro pelos cornos”.

O touro, aqui, poderá ser considerado a situação de alguns “seres humanos” que, pela sua origem genética, possam ser - ou parecer ser - alvo de possíveis referências menos “elogiosas” da minha parte, devido às circunstâncias da vida, que os colocou na “linha de fogo” dessas possíveis referências, quantas e quantas vezes sem culpa própria de si mesmo.

De facto, a existir alguma culpa em relação a alguns desses “indivíduos”, nada terá a ver com a sua “genética ou a sua “origem”, mas, sim e somente, pela sua própria atitude – se é que a tiveram - através da sua intervenção em episódios vários que, pela sua complexidade, não adianta mencionar aqui, nesta secção.

O que quero dizer com isto, é o facto que, por exemplo, enquanto há pessoas que se “encolhem” em não fazer referências ao aspeto “racial ou étnico”, de uma determinada forma, para não levantarem “pó-polémico”, devido á sensibilidade relacionada com este aspeto “sociológico” – normal, diria eu – como, por exemplo, “terem acanhamento em “referir-se diretamente” que… “preto é preto”, “branco é branco” e, “mestiço é mestiço”, sendo que, na realidade, não deveriam ter preconceito algum nesse aspeto, sempre e quando o respeito seja norma frontal no trato entre os mesmos, porque, efetivamente, uns e outros – pretos, brancos e mestiços - não deixam de ser todos mas TODOS mesmo - seres humanos, em igualdade de circunstâncias.

Havendo respeito de trato entre todos, a cor da pele de alguns, ou de outros, passará para segundo plano ou deixará mesmo de existir por completo, passando a ser um tema-tabu sem significado, no relacionamento entre seres humanos que se respeitem. 

Quem faz o caracter do ser humano não é, por certo, a “cor da pele do preto, do branco ou do “mestiço”, mas, sim, a forma de ser de cada quem, bem como o relacionamento de cada um dos “portadores da cor da pele em questão”, em relação aos outros seres humanos, tanto nas lides do dia-a-dia, como pelas suas decisões quando em posição de as tomar, em relação aos “portadores” de uma tese de pele diferente e, ou - diria eu também - de uma nacionalidade diferente da sua.

Por isso, qualquer referência, aparentemente “negativa”, que acaso eu venha a fazer aqui, nalgum lado nestas linhas, nada tem a ver com o facto da “pessoa-alvo” dessa referência, seja “preta, branca ou mestiça”. Se refiro este aspeto, é somente para ir de encontro “á verdade” sobre “quem, como e porquê”, fez ou tentou fazer fosse o que fosse, em relação á minha pessoa. As minhas referências, tipo “queixas ou desabafos”, são dirigidas ao ser humano e não “á pigmentação da pele” de quem quer que seja. Qualquer referência á cor da pele, e só isso mesmo…Referência, e não “xenofobia racista e hipócrita”.

Depois, há ainda aquelas circunstâncias, que levam determinadas pessoas a “pensarem” que… podempensar pelos outros” quando, na verdade, é muito provável e até possível que, as pessoas sobre quem “estas” pessoas pensam da forma como pensam, poderem vir a pensar totalmente diferente, pensando por si sós, livremente, e sem a interferência de estranhos.

Confuso? Talvez, mas a culpa não é minha!

Pensassem todas as pessoas “razoavelmente” e sem preconceitos, talvez eu não tivesse que fazer este esclarecimento tão pormenorizado. Com isto, a referência feita mais adiante a pessoas “mestiças” originárias de Cabo Verde - e não só - não significa qualquer animosidade para com os “cabo-verdianos” - ou para com quem quer que seja, em si mesmo mas…sim e somente, serve para ilustrar um problema existente, amplamente do conhecimento público, no que concerne ao relacionamento entre “guineenses e cabo-verdianos” na ex. Guiné Portuguesa, agora Guiné-Bissau. Mais adiante, os leitores irão ter a oportunidade de se dar conta, do que aqui tento explicar.

Mas, levantando um pouco “o véu” sobre o tema, referir-me-ei apenas aquela espécie de “romanticismo” existente ainda nos dias de hoje - de uma forma exagerada quanto a mim - á volta de toda a figura de Amílcar Cabral, proclamado fundador do PAIGC, e principal dinamizador da luta armada para libertação da Guiné e Cabo Verde.

"Pardon moi francais”, pasq… de facto, é verdade que, lá que foi bastante influente em todo o processo, lá isso foi...mas, de modo algum foi o único, como a “mistificação do tema” parece indicar! Não foi o único… e nem poderia ter sido, se tivermos em conta que, uma “aventura daquelas”, como lutar pela dignidade de todo um povo, requeria muito mais do que o envolvimento de uma só pessoa. No entanto, ironicamente ou de propósito, sobre o nome de outros importantes intervenientes, pouco ou nada foi…ou é dito, até ao momento destas linhas serem escritas. Pelo menos, que eu saiba…ou, a não ser que me tivessem passado ao lado. Sobre isto… e de tudo o mais não dito, no meu ponto de vista e do meu grau de informação e conhecimento, resta dizer que…factos são factos e, o resto, são mistificações para agradar á “plateia”. Acontece que eu não estou cá para isso! Respeito tudo e todos, e nada mais! Não devo “servitude” a ninguém, a não ser á verdade das minhas convicções (informadas).

Portanto, e em nome da verdade, dando mérito a quem o teve, a começar por Amílcar Cabral, deve dar-se “a Pedro o que é de Pedro, e a Paulo o que é de Paulo” porque, por muito discretos que possam ter sido, outros intervenientes houve na luta armada, cuja influência - menos “apregoada” ou mais esquecida até agora - não deixou de contribuir para o “sucesso” dos objetivos em vista de todos os intervenientes que, ao fim-e-ao-cabo, era pura e simplesmente a independência do seu povo!

No entanto, sobre este aspeto, o que foi dito, dito fica. Não serei eu a contradizer esse ponto. Aqui, só dou a minha opinião, nunca com a intenção de retirar o mérito a quem quer que seja ou tenha sido. No entanto, considerando que todos os romances “são bonitos”, o certo é que, na minha opinião, todos pecam pelo exagero na “mistificação” de alguns dos seus personagens principais. Porquê?

Pois, porque, em parte ou num todo, nenhum destes personagens foram ou são perfeitos “seres humanos” e, como tal, poderão estar recheados de imperfeições e julgamentos menos afortunados, completamente fora da realidade. E, aqui, Amílcar Cabral não deveria de escapar a esta regra “d’ouro” que, por uma questão de sensatez, deverá ser aplicável a todo o ser humano. 

Finalmente, nesta nota, permitam-me referir também que, pela minha educação (4ª classe, á idade de 11 anos e, mais tarde, já com cerca de 50 anos, a equivalência ao 12º grau, sem cursos superiores… além do “mestrado” da mundialmente afamada universidade da “pdv”, creio que, se juntarmos a isso, a longa ausência da “Pátria-mãe”, os leitores não deveriam esperar de mim, que vos apresentasse aqui um texto sem erros verbais ou literários. Principalmente “erros” verbais, considerando que eu discordo do novo dicionário ortográfico, de 2010. Mais!

Nesse ponto, atrevo-me a dizer que, até seria  um erro, se erros aqui não houvesse…porque, conforme diz um dos meus refrãos...“a minha imperfeição, é o que faz de mim, um perfeito cidadão”

Deste modo, sendo eu, cronologicamente falando, o 5º filho de um conjunto de sete, de uma das famílias mais pobres da minha aldeia – o Alcaide, situado na encosta Norte da serra da Gardunha, “capital da minha constante saudade e sombra que me acompanhou e acompanha 24 horas por dia” - qualquer expectativa, por parte dos leitores, de virem aqui encontrar uma linguagem “polida”, com frases compostas para “agradar á plateia” e, portanto, uma linguagem “falsa e disfarçada” das mazelas literárias do autor, sem “defeitos linguísticos”… estão redondamente enganados.

Aqui, tal como numa-feira de burros, “o animal que vêm… é o animal que compram” porque, para mais não deram, e só a tanto chegaram, os meus parcos conhecimentos. De um modo geral, o que aqui for escrito, reflete o que a linha de pensamento do “meu ser” exige que escreva, saindo “diretamente” das profundezas das minhas entranhas, às vezes...sentindo raiva de mim próprio, perante tanta “falta de saber” mas que, no fundo, me deixa feliz-da-vida, pela teimosia em insistir - e “atrever-me”, a mais uma aventura literária, para a qual sinto que nasci mas que, as “fortunas da vida” não me prepararam convenientemente. Diria eu que, é quase como tentar “remar” contra a maré, sem marinheiro nunca ter sido!

Permitam-me recordar ainda que, à data destas linhas, tenho - da minha autoria - “Palavrasde um defunto, antes de o ser” lançado em 2012, pela editora do Chiado. E, de uma formaconjunta – como coautor – em três outros livros, de poesia, publicados pelas editoras “edições e-copy”, o 1º e, o 2º e 3º, Editora do Chiado.  É tudo, nesta nota. Que tenham uma boa leitura!

INTRODUÇÃO

***

Conforme os leitores já se devem ter dado conta, a cidade de Bissau é a protagonista-principal, sobre a qual o título deste livro foi inspirado, tendo como referência os períodos de… “antes e depois da independência”, em relação às mudanças por mim “visualizadas”, no que concerne á composição da “textura humana” da cidade, desde a data da minha chegada a 17 de Maio de 1967, e o período pós independência – 10 de Setembro de 1974 até meados de Agosto de 1981, ocasião da minha saída da Guiné, para sempre.

No conjunto geral de intenções a procurar justificar referências já feitas ou a fazer, refiro-me ao período acima descrito, bem como ao período pós-independência, considerando as radicais mudanças feitas na política local, levadas a cabo pelos novos governantes, á frente dos destinos da Guiné-Bissau.

De facto, após a independência e, inesperadamente, como que da “noite para o dia”, tanto os poucos europeus que por ali ficaram – na maioria portugueses - como a população local, são surpreendidos com mudanças radicais no “modus-operandi” das atividades comerciais - especialmente no ramo da restauração, ao qual eu me dedicava, com novos horários de “porta aberta” e política de prática de preços fixos, com consequências sociais e económicas que, lamentavelmente para mim e minha família, ainda hoje sinto um determinado trauma e uma certa “raiva” interior de impotência pela surpresa de tais leis, sendo que, efetivamente, o meu ramo de atividade foi o mais atingido, a par de alguma “ingratidão” para com a minha pessoa.

Ingratidão, não do povo da Guiné em si mesmo, mas sim, por parte de alguns elementos do novo Governo – não todos – incluindo meia dúzia de “extraviados” do sistema - politicamente falando - ligados a outros elementos bem empoleirados no poder, pertencentes á “ala” política dominante na ocasião que, para ser mais direto, era formada por elementos de origem cabo-verdiana, incluindo o próprio presidente Luís Cabral e outros.

O título deste livro tem por base a cidade de Bissau, sobre a qual farei algumas referências, sem que, com isso, me venha a envolver demasiado a descrever todo o passado da mesma cidade, nem tão-pouco descrever a origem dos vários povos que ocuparam a zona da ilha de Bissau, anteriormente á chegada dos portugueses, incluindo episódios de resistência, desde o início da ocupação do território que é hoje conhecido como Guiné-Bissau.

Este aspeto, se bem que, aqui e ali, poderá ser alvo de alguma referência mais pormenorizada, o certo é que não faz parte da minha intenção inicial. E, se o fizer, será mais para “realçar” qualquer outro-ponto que, por acaso, eu queira chamar á atenção, tal como dizer que, de facto, vários foram os povos que “povoaram a Guiné-Bissau” e que, periodicamente travaram lutas entre si, incluindo a união de forças contra o último dos ocupantes até àquela data…os portugueses.

De facto, quase que se poderia dizer que, desde a chegada dos portugueses, sempre existiu alguma determinada forma de “resistência”, por parte dos habitantes da região, fossem eles de que “etnia” fossem.

Naquele tempo, e antes da chegada dos portugueses, aquela região fazia parte do “reino do Gabú – antiga Nova Lamego, no tempo dos portugueses – mas, debaixo do império do Mali, que se estendia por um vasto “mapa africano” na costa ocidental de África.

Com isto, e por não ser minha intenção concentrar-me demasiado, sobre o passado de então, continuo…referindo que, o título deste livro, é ainda inspirado na “base” das drásticas mudanças feitas pelas autoridades locais pós independência, com decretos e leis desconhecidas de todos - exceto dos que as decretaram - até serem implementadas de um modo “punitivo”, sem qualquer condescendência pelo desconhecimento de tais leis, com um impacto tremendo no dia-a-dia da vida quotidiana e financeira de cada quem, em detrimento do modo de vida local, bem como nas perspetivas de se poder exercer uma atividade comercial livre e promissora, que incutisse esperança no futuro.

Permitam-me assim, descrever Bissau, debaixo da minha própria perceção ou ótica visual de modesto observador, adquirida logo aquando da minha chegada á Guiné, em comparação com a radical transformação notada, após a independência.

Com isso, e francamente falando, reconheço que até poderei cometer algum erro de análise na minha “observância”, quando comparada com o título que escolhi, pelo que, se assim for, mais uma vez junto a “referência feita antes” na nota de autor, onde tento alertar para qualquer imperfeição literária, considerando a minha pobre preparação nestes “meandros” de escrever para o público.

Entretanto, como irão notar, eu irei recorrer por mais que uma vez, a frases de chamada de atenção para determinadas datas, tal como dizer… “estamos na data “tal e tal, do ano tal”, devido a que, o desenrolar da descrição de certos episódios, se entrecruza com outros de mais prioridade ou necessitados de uma explicação mais pormenorizada. E, quando assim acontece, é possível que o episodio deixado para trás, não seja terminado no mesmo capítulo onde teve início.

Faço esta mudança, na intenção de não “enredar o leitor” na leitura de “dois temas” ao mesmo tempo, correndo o risco de ficar “perdido” no meio da leitura do que quer que seja e, com isso, não se encaixar bem nos episódios em discussão. Sinceramente, penso que com o uso de “chamada de atenção” para determinadas datas, dou oportunidade ao leitor de “refrescar” a memória, transportando-o ao tempo do episódio já começado.

Aqui, eu comparo este meu “dilema” com aquela situação de “um homem, com um lobo, uma ovelha e uma couve” pertenças do homem que, forçosamente, tinha que atravessar um rio - de uma margem para a outra, numa canoa - onde, á vez, só poderia ir ele e uma das suas pertenças. “O homem e o lobo; o homem e a couve; ou… o homem e a ovelha”.

Não sei se o leitor está a “ver” bem – mesmo que através destas linhas – o dilema do homem! Se atravessasse “ele e o lobo”, a ovelha… ficando sozinha com a couve, poderia comer a mesma couve. Se atravessasse “ele e a couve”, o lobo poderia comer a ovelha.

Mas, se atravessasse “ele e a ovelha”, não se acredita que o lobo viesse a comer a couve. De facto, assim parece ser, se assim fosse. Mas não é! Ou se é, não acaba ali o dilema do homem.

Portanto a solução foi… “experimente o leitor e, quando, simbolicamente falando, atravessar o rio pela 1ª primeira vez juntamente com a ovelha, regresse para levar a couve ou o lobo consigo, regressando novamente para atravessar com o último dos seus haveres”. Repare! Se levar a ovelha consigo, o lobo fica com a couve, na expectativa que, logicamente, o lobo não irá comer a couve. Pelo menos assim se espera que seja.

Deste modo, ao regressar, depois de ter levado a ovelha consigo, esta fica sozinha, na outra margem do rio! Portanto, o leitor regressa ao ponto de partida, e atravessa pela 2ª vez o rio, levando consigo a “couve ou o lobo”. Aqui, dependendo do que levar consigo nesta 2ª vez, ficará somente o lobo ou a couve, na outra margem. E… pois é!

O dilema do homem começa aqui porque, ao regressar pela 2ª vez, na intenção de levar o último dos seus haveres (couve ou lobo) deixando na outra margem os dois 1ºs “ovelha e couve ou ovelha e lobo”… como tal, tanto a ovelha pode comer a couve como o lobo pode comer a ovelha…se os deixar juntos na outra margem. É certo ou não é certo? Portanto, a solução não é assim tão fácil. É possível, mas não é fácil.

Um dilema similar ao do homem tenho eu em certas passagens do livro, quando me encontro numa encruzilhada de temas entrelaçados uns nos outros, obrigando-me a deixar algum a meio, na tentativa de realçar algum ponto que se sobreponha ao tema em discussão, como já referi antes.

Espero que compreendam o quero dizer e onde quero chegar. Deste modo, tentando dar uma “luzinha do que acaso fique pendente” quando voltar ao mesmo tema, faço referência á data do episódio, de modo a que o leitor possa “apanhar o fio da meada” e ser transportado mentalmente, ao tempo do tema em questão.

Por exemplo: É possível que refira por mais de uma vez, que… “estamos a 10 de Setembro de 1974”, data da independência da Guiné e nascimento de Bissaulónia” ou…“estamos a 21 de Março, de 1975, um dos anos mais difíceis da minha estadia na Guiné e, diria mesmo, na minha vida… data em que, tropas do PAIGC prenderam 4 dos meus empregados, africanos, mesmo em frente do meu nariz (11), aos quais eu tinha dado trabalho após terem sido desmobilizados, depois de serem forçados a entregar as armas, (por ordem do Otelo e outros) com as quais, tinham lutado lado-a-lado das nossas tropas, servindo a nossa bandeira (12). 

Finalmente, creio que como introdução descritiva de alguns pontos que considerei necessário fazer, já foi dito o suficiente e, como tal, termino, convicto que os leitores irão gostar imenso de ler este livro, fazendo votos sinceros de uma agradável leitura, começando pelo 1º capítulo, intitulado “o nascimento de Bissaulonia”.

Que tenham uma boa leitura,

são os meus votos…

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Friday, June 11, 2021

Poeta Todos os Dias: ORIGINALIDADES

Poeta Todos os Dias: ORIGINALIDADES: Tenho para minha impressão que neste país surreal, alguns cargos da governação são criados de modo original. Não por ser uma exigência de qu...

Thursday, May 2, 2013

2ª PARTE DE WHISKY AO KILO - HISTÓRIA NO PELICANO

Presados leitores:

Se bem devem recordar, na mwnsagem anterior...fiz referência ao episódio de ter “apanhado” alguns empregados de mesa, a deitar água nas garrafas de whisky…garrafas essas que eram usadas no serviço de mesas nas esplanadas.
DEIXEM-ME EXPLICAR MELHOR, COMO ERA O SISTEMA EM VIGÔR, NA OCASIÃO!
– Na Guiné, o sistema em vigor com os empregados de mesa era...

a)      – Ao chegarem ao trabalho, cada qual no seu horário, recebiam uma “determinada quantia” em dinheiro - ficando registado na caixa – para que, ao fazerem um pedido, pagassem imediatamente, sendo a responsabilidade deles apresentar a conta aos clientes, nas mesas.

b)      Inicialmente, o empregado chegava e fazia o pedido de…por exemplo, “2 copos com gelo, uma garrafa de água castelo para servir dois whiskies”.

c)       Portanto, aqui o empregado pagava dois whiskies…mas, de facto, não se sabia se na mesa eram servidos 3 ou 4 e, por isso, iniciei o sistema de “destinar” uma garrafa de whisky por cada empregado.

(o mesmo sucedia com todas as outras bebidas engarrafadas)

No entanto, com este sistema em vigôr, apercebi-me que havia algo que não batia certo porque, por precaução, instrui a pessoa a cargo do balcão que, na ocasião, era um familiar que, tanto poderia ser o meu irmão já aqui referido – aquele que apanhou os ladrões, mencionado numa das mensagens anteriores – como um cunhado, marido de uma irmã minha, para que “cada dia, se marcar um empregado” para ficar “debaixo de olho”, de modo a controlar-se quantas vezes o mesmo pedia “copos com gelo e água castelo”.
Era nossa intenção procurar “descobrir” qualquer "marosca" que por ali pudesse existir! O resultado foi...marosca grossa, á vista!

Vejamos: - O empregado tinha por conta dele uma garrafa de whisky, de onde servia determinada quantidade aos clientes, durante o turno dele. Com este sistema, o empregado só pagava no final e, posto isto, terminado o turno, aproximava-se para devolver o dinheiro que lhe tinha sido entregue de avanço, no início do turno e… todas as garrafas que o mesmo empregado tivesse usado, eram alvo de “um refil”, com a bebida da mesma marca.
Portanto, cingindo-me somente ao whisky, digamos JW cinta vermelha, pegava-se numa garrafa da casa e despeja-se “bolha por bolha” para dentro da outra garrafa usada pelo empregado.Quantas bolhas coubessem, quantas pagava.

Bem…aparentemente, parecia que ”isto” poderia estar “á prova de bala ou á prova de falcatrua”?Esqueçam-se disso… porque será um erro tremendo se assim chegaram apensar.
Pois…assim foi!
Com aquela ideia de “controlar” cada dia um empregado previamente seleccionado como alvo de vigilância, acabou-se por descobrir que, numa vista de olhos rápida, se notava logo que “a lista de vezes” que o empregado pediu água castelo e, digamos, dois copos com gelo, significava que a quantidade de whisky saído da garrafa teria que ser mais do que o espaço vazio da mesma garrafa aparentava ter. Por outro lado, numa inspecção mais atenta, colocando a garrafa da casa juntamente com a garrafa que o empregado tinha usado, descobri que, uma certa aparência descolorida da garrafa de serviço.

Uma outra nota que levantava suspeitas, era o facto que…o empregado que tinha sido alvo de “vigilância” quase sempre se aproximava mais depressa que todos os outros, demonstrando uma certa “ansiedade” em “pirar-se dali para fora…com peso de consciência” para trás das costas, argumentando que tinha que ir mais cedo por isto ou por aquilo!.
E, sobre o último ponto, quando refiro “por isto ou por aquilo”, tenho que dizer que, durante todo o tempo que lá estive na Guiné – incluindo cerca de 4 anos na Embaixada dos EUA, com “supervisor” do pessoal local – conforme cópia de carta abaixo – encontrei que “isto ou aquilo” era usado variadíssimas vezes em referência a “acontecimentos familiares”, como, por exemplo, que morreu ”nha mamãzinho” ou morreu a minha a vozinha! 

NOTA: Na carta abaixo, refere-se a deixar a embaixada dos EUA depois de 2 anos porque, de facto, nos 1ºs 2 ou quase, não estava no "quadro" de efectivos.
























Não acreditam se lhes disser que “a avozinha de alguns” dos empregados - ou colegas de trabalho -  locais morria várias vezes ao ano. Tal como o título do meu 1º livro, "eram defuntos antes de o serem".
Bem…mas continuando com a história do “whisky” e conforme ia dizendo, o empregado em questão, demostrava “culpabilidade” sobre o que tinha feito e queria “pirar-se” dali o mais rápido possível.
Portanto, mais que uma vez, ali perante uma falcatrua, eu punha a minha miolinha a “trabalhar a toda a velocidade” - embora parado - desde que não me rebentasse as costuras do ”coco” cerebral, na procura de encontrar soluções para este problema. E, sem necessidade de ir á bruxa a pedir ajuda, imaginei a solução, usando uma balança para pesar as garrafas cheias.

Muito bem! Encontrada a solução, faltava agora ver se funcionava.
Não me recordo bem como mas, se não foi sonho, foi falta de sono a pensar toda a noite como resolver o problema. Não é que, no outro dia, me vem á cabeça o que tinha pensado ou sonhado…que, referia a necessidade de adicionar á balança algo mais, para que, de uma vez por todas, o problema fosse resolvido.

COMO?... Pois…se quiserem acreditar acreditem e, se não quiserem acreditar, nada posso fazer para os contrariar a não ser “afirmar” que não tenho interesse algum em dizer coisas que não foram certas e reais.
Portanto, tendo a solução da balança, nada impedia aos empregados voltarem a fazer o mesmo, a não ser se… lhes tirasse a possibilidade de tirarem a “bolha medidora” do gargalo da garrafa, até esta ficar completamente vazia.

Deste modo…pesava-se uma garrafa cheia e, de bolha a bolha, despejava-se para dentro de uma garrafa vazia. Bem feias as coisas, daria cerca de 34-36 bolhas.

Creio que o grande Hotel me debitava cada garrafa a cerca de 25 bolhas – talvez mais mas era menos de 30.
Assim tínhamos…

1)      O peso de uma garrafa cheia
2)      O peso de 36 bolhas
3)      O peso de uma garrafa vazia.

Portanto, faltava selar a “bolha” para que não fosse retirada do gargalo, de modo a não permitir “misturarem água” no whisky.
Agarrei, fui uma papelaria a comprar umas quantas barras de “lacre” daquele com que se lacravam cartas com documentos importantes. Ao mesmo tempo, comprei um novelo de “fita fininha” similar aquela com que se fazem embrulhos e, rodeando a “bolha” com um “nó cego”, coloco a fita, em todas as garrafas de serviço, cruzando a mesma com nó cego também no fundo da garrafa. Ali, puxando bem puxada, aplicava o“lacre” exactamente do fundo da garrafa. Deixava secar e arrefecer e “vá lá… já está”.

Posto isto, havia clientes que perguntavam para que era aquilo e, obviamente, ficavam de boca aberta quando se lhes dizia o porquê.
Portanto, com este sistema em vigor, eu responsabilizava cada empregado por 30 bolhas mas, no final de cada dia, pesava-se a garrafa para ver quantas “gramas de whisky” tinham saído da garrafa e, multiplicando, encontrava-se o numero de "bolhas" vendidas e, como tal, seria quantidade que o empregado tinha que pagar naquele dia.

Deste modo, tal como disse desde o início sobre este tema, efectivamente vendia-se o "whisky ao Kilo" ou, mais propriamente dito, ao peso!
Finalizando, e como m,encionei logo no início, até empregados "europeus" que trabalhavam ali "part-time" foram apanhados a misturra água no whisky.
Pode não ser uma grande história mas, duvido muito que a maioria dos leitres tivessem conhecimento de algo assim poder ter sucedido.
´WE tudo, sobre este tema.
Boa sorte a todos.
 
 

Friday, April 26, 2013

1ª PARTE DE WHISKY AO "KILO" - NO PELICANO

 
Presados leitores:
Nas minhas mensagens anteriores sobre “episódios” passados no Café-Restaurante “O PELICANO”
- localizado em Bissau junto á marginal, perto do cais principal de desembarque e embarque de “tropas  e mercadoria - recordo ter mencionado que tinha apanhado alguns empregados a “misturar água no whisky”…o que, se vermos bem, até nem teria grande valor para servir de “conto” porque, de facto, quantos não são os clientes que pedem exactamente… essa mistura?

Whisky, gelo e água”… é uma “mistura” banal, sem nada de especial que possa admirar quem quer que seja.  É! Assim seria se assim tivesse sido! Mas não foi!

Vejamos:
Para os leitores que tiveram a oportunidade – não interessa em que circunstâncias – de passar pela Guiné e, especialmente pelo Pelicano em Bissau, deverá recordar que “aquilo” era enorme e, como tal, requeria uma certa dinâmica de podêr de controlo, de modo a que os clientes fossem servidos o mais eficiente possível, sem contudo deixar “fugir o grão-principal” de toda aquela actividade.
Aqui, refiro-me ao “pagamento da conta” ao empregado que os servia – e houve vários episódios em que os utilizadores do serviços e mercadoria “deram ao pinote” – bem como o empregado prestar contas ao balcão dos “pedidos” que periodicamente fazia.
Se pensam que era fácil, agradeço que me mandem “palpites” da melhor forma de controlar – por exemplo – 8 empregados de mesa na parte de cima e 10 na parte de baixo, cada qual com a sua missão de levar ao cliente “o pedido” feito, composto por fosse pelo que fosse mas que teria que ser pago antecipadamente pelo empregado (na parte de cima era assim) ou controlado, para que a conta fosse apresentada ao cliente e, posteriormente, pelo empregado na caixa registadora.
NA OCASIÃO, RONDAVA EU NOS 25-26 ANOS DE IDADE (casei aos 24, feitos em Janeiro de 1969) E, AINDA POR CIMA, COM UMA FILHA ACABADA DE NASCER QUE, QUANTAS VEZES ANDAVA COMIGO NOS BRAÇOS E EU A TRABALHAR, CONFORME FOTO.

Agora, ponham-se a pensar que... alguns dos leitores chegavam ali ao local, entravam pior ali adentro, escolhendo um dos terraços para confraternizar e dar “azo” á liberdade em celebração da vida, sabe-se lá se depois de um dia “no mato” – obviamente mais esporádica esta parte porque…quem estava “no mato” não vinha á cidade facilmente. Mas, tropas especiais...PÁRAS, COMANDOS E FUZAS" até nem era anormal.  

Portanto, conforme ia adizendo...ali se encontravam e faziam o “vosso pedido” que, poderia muito bem incluir “whisky com água castelo, gin-tónico etcª, etcª".
Se não se recordam, permitam-me lembrá-los que, por exigência do cliente, ali o serviço exigia que os copos fosse para a mesa com o gelo e a garrafa do whisky a acompanhar, para que o cliente visse a qualidade e quantidade de whisky que lhe era servido.

Era ou não era assim?

Ali, não se podia servir a bebida ao balcão - excepto imperiais se já as houvesse. Ali, tudo era aberto na mesa e as garrafas de "misturas" tinham que ir á mesa. Nisto, incluia o whisky, gin, vermuth, vodka, rum etc.ª.

AGORA...PONHAM-SE NOS "MEUS SAPATOS" OU NA MINHA POSIÇÃO!

1)      Como saberia eu que, o empregado de mesa servia ao cliente somente uma “dose”? – Neste caso, recordar-se-ão que, cada garrafa tinha uma “bolha medida”)

2)      Como controlava eu o serviço na mesa, estando eu tão ocupado?  

3)      Quantas vezes não aconteceu com alguns dos leitores que…originalmente pediam uma  dose” de whisky e, ali na mesa, ao verem a quantidade da “dose” saída da medidora, não diziam ao empregado para “deitar duplo”?

4)      Quantas e quantas vezes isto não se passava fora do meu controle? Pois é...e  foi centenas, senão milhares de vezes que tal sucedeu.

 Então, que fariam os leitores... se estivessem na minha situação?
Eu tinha que prestar contas ao dono do Grande Hotel - na foto, no Pelicano juntamente com a esposa dele – grande senhora era ela – eu e uma cunhada no almoço de baptismo da minha filha.

 
Como prestava contas o empregado “lá no 1º terraço” á esquerda no Pelicano... e eu lá em baixo, se possível na cozinha ou ao balcão ou a atender algum cliente na secção mais ao fundo do restaurante que, de vez enquanto faria a sua chamada de atenção par algo que não estivesse ao gosto dele?

Bem, agora não adianto mais… para deixar os leitores aa pensar nas perguntas que fiz mas, para que fiquem “ligados” a este tema, somente adianto que, tal como há muita maneira de “matar pulgas” também há muita maneira de controlar.
Só que, por toda a forma de controlar, aparece sempre uma de “furar” o sistema. E, que eu saiba,  só encontrei uma forma de tal não suceder.

E sobre isto, só digo que o processo passa por vender o “whisky” ao peso!
 
E, mesmo assim, alguns empregados – brancos e pretos, há que o dizer - ainda “furaram o sistema” até que…
 
...depois termino,  acabando por ganhar "a batalha".